INTRODUÇÃO
A memória (do latim memoria) é a faculdade psíquica através
da qual se consegue reter e (re) lembrar o passado. A palavra também permite
referir-se à lembrança/recordação que se tem de algo que já tenha ocorrido, e à
exposição de factos, dados ou motivos que dizem respeito a um determinado
assunto.
Por outro lado, a memória é uma dissertação escrita podendo
ser do foro científico, literário ou histórico. Também é sinónimo de memorando,
isto é, um impresso usado comercialmente para pequenas correspondências, ou
ainda um simples apontamento destinado a lembrar qualquer coisa (uma consulta
no dentista, o pagamento da factura da electricidade, etc.).
No plural, dá-se o nome de memórias a um escrito narrativo em
que são compilados factos a que o autor assistiu ou participou. Também se pode
chamar de memória a um monumento comemorativo. Ao longo da história, foram
mandados construir monumentos e/ou edifícios em memória de alguém (pessoas que
se sacrificaram/perderam a vida em nome da pátria, por exemplo).
DESENVOLVIMENTO
Há duas maneiras pelas quais o cérebro adquire e armazena
informações: a memória de procedimento e a memória declarativa. Essas duas
formas divergem tanto no que diz respeito aos mecanismos cerebrais envolvidos,
como nas estruturas anatómicas.
A memória de procedimento (também chamada implícita) armazena
dados relacionados à aquisição de habilidades mediante a repetição de uma
actividade que segue sempre o mesmo padrão. Nela se incluem todas as
habilidades motoras, sensitivas e intelectuais, bem como toda forma de
condicionamento. A capacidade assim adquirida não depende da consciência. Somos
capazes de executar tarefas, por vezes complexas, com nosso pensamento voltado
para algo completamente diferente.
Por outro lado, a memória declarativa (também chamada explícita)
armazena e evoca informação de fatos e de dados levados ao nosso conhecimento
através dos sentidos e de processos internos do cérebro, como associação de
dados, dedução e criação de ideias. Esse tipo de memória é levado ao nível
consciente através de proposições verbais, imagens, sons, etc. A memória
declarativa inclui a memória de fatos vivenciados pela pessoa (memória
episódica) e de informações adquiridas pela transmissão do saber de forma
escrita, visual e sonora (memória semântica).
Analisando a memória quanto ao tempo de armazenamento das
informações, pode-se classificá-la em memória de trabalho, memória de curto
prazo e memória de longo prazo.
A memória de trabalho, que alguns acreditam ser parte da
memória de curto prazo, atua no momento em que a informação está sendo
adquirida, retém essa informação por alguns segundos e, então, a destina para
ser guardada por períodos mais longos, ou a descarta. Quando alguém nos diz um
número de telefone para ser discado, essa informação pode ser guardada, se for
um número que nos interessará no futuro, ou ser prontamente descartada após o
uso. A memória de trabalho pode, ainda, armazenar dados por via inconsciente.
A memória de curto prazo trabalha com dados por algumas horas
até que sejam gravados de forma definitiva. Este tipo de memória é
particularmente importante nos dados de cunho declarativo. Em caso de algum
tipo de agressão ao cérebro, enquanto as informações estão armazenadas neste
estágio da memória, ocorrerá sua perda irreparável.
A memória de longo prazo é a que retém de forma definitiva a
informação, permitindo sua recuperação ou evocação. Nela estão contidos todos
os nossos dados autobiográficos e todo nosso conhecimento. Sua capacidade é
praticamente ilimitada.
Não há uma estrutura ou uma determinada porção do cérebro
reconhecidamente depositária de informações, embora se acredite que o lobo
temporal esteja envolvido com a memória dos eventos do passado. Entretanto, são
conhecidas várias estruturas cerebrais envolvidas com a aquisição e o processo
de armazenamento de dados.
MECANISMOS
DA MEMÓRIA
Ainda não se
conhece definitivamente o mecanismo, ou os mecanismos, pelo qual o cérebro
adquire, armazena e evoca as informações.
Não obstante,
alguns modelos são propostos para explicar essa função do cérebro humano.
O primeiro dos
modelos propostos, tem como base a actividade eléctrica cerebral. Assim, a
informação seria guardada em circuitos eléctricos, ditos reverberantes.
Evidência desse mecanismo é obtida pela existência de conexões neuronais
recorrentes, ou seja, por ramificações da célula nervosa (neurónio) que voltam
ao seu próprio corpo, reestimulando-a. É possível que esse mecanismo esteja
presente na manutenção das informações nas memórias de trabalho e de curto
prazo.
O segundo modelo
baseia-se na produção de substâncias químicas que conteriam um código
relacionado às informações. Esse modelo supõe que os neurónios possam
sintetizar ARN (ácido ribonucleico) e que essa substância conteria um código da
memória da mesma forma que o ADN (ácido desoxirribonucleico) contém a
codificação genética. Embora se tenha verificado aumento da síntese de ARN em
fases de aprendizado, actualmente acredita-se que essa síntese seja responsável
mais pelo funcionamento celular do que pela criação de um código químico, de
forma a ter-se relegado a um segundo plano essa hipótese.
Outro modelo,
conhecido por modelo conexionista, pressupõe a alteração das conexões entre os neurónios.
Todos os neurónios emitem ramificações que se comunicam com as de outros neurónios,
tendo umas, carácter estimulante e outras, carácter inibitório para a célula a
que se destinam. A transmissão do impulso nervoso é feita no ponto de encontro
dessas ramificações com a célula alvo, ponto essa denominada sinapse. A
hipótese é que haveria alteração da função sináptica criando novos circuitos
neuronais e seriam esses circuitos que codificariam as informações. Esse modelo
tornou-se bastante plausível depois que se comprovou, experimentalmente, o
aumento da resposta sináptica com a aplicação de estímulos repetitivos.
Assim, acredita-se
que o substrato da memória é o aumento da função sináptica (hipertrofia) ou a
criação de novas sinapses. Esse modelo é bastante interessante, pois, além de
esclarecer como são guardadas as informações, permite explicar, também, a atenuação
das lembranças, fenómeno conhecido por todos, e que ocorreria em virtude da
diminuição da função sináptica causada pelo desuso.
AMNÉSIA
A amnésia é uma
entidade patológica provocada por diversas causas em que o indivíduo perde a
capacidade de reter informações novas (amnésia anterógrada) ou de evocar as
antigas (amnésia retrógrada).
As amnésias são
sempre causadas por agressões ao cérebro e podem ter carácter transitório ou
permanente, sendo algumas delas destacadas a seguir:
1) Síndrome de
Korsakoff – Doença descrita como decorrência do alcoolismo crónico pode, no
entanto, ter outras causas. A amnésia é o sintoma predominante nessa síndrome,
sendo caracteristicamente do tipo anterógrado.
2) Amnésia
traumática - Mesmo que não percam a consciência, pessoas que sofrem um trauma
de crânio de certa intensidade, muito frequentemente, esquecem-se dos fatos que
ocorreram minutos antes do trauma (amnésia retrógrada) e também, dos fatos que
ocorreram após o trauma (amnésia anterógrada). Existe certa relação de
proporcionalidade entre a intensidade do trauma e o tempo de amnésia.
3) Amnésia global
– Esse tipo de amnésia está correlacionado com grave e difuso comprometimento
cerebral. De forma definitiva, instala-se a amnésia tanto anterógrada quanto retrógrada,
ou seja, o indivíduo perde a capacidade de reter novas informações e de evocar
seu estoque antigo de informações. Tal situação ocorre em demências, traumas
muito graves e intoxicações por monóxido de carbono.
4) Amnésia global
transitória – Nessa situação, a amnésia dura algumas horas, não ultrapassando
um dia, e a recuperação é completa. O indivíduo tem comportamento normal, mas
não retém nenhuma informação durante o episódio, ou seja, apresenta amnésia
anterógrada completa e essa lacuna na memória da pessoa permanece depois da
recuperação. A causa desse distúrbio não está, ainda, totalmente esclarecida,
mas parece estar ligada a uma isquemia transitória que afeta as partes internas
do lobo temporal. Essa patologia tem curso benigno, sendo excepcional um
segundo episódio.
5) Amnésia
pós-operatória – Há cerca de 50 anos, um neurocirurgião americano, para poder
tratar um paciente com crises convulsivas que não respondia ao tratamento com
remédios, fez uma cirurgia para retirar, de ambos os lados, certas partes do
lobo temporal (hipo campo e porção medial). Esse paciente obteve controlo das
crises, mas ficou com amnésia anterógrada muito intensa, Por isso, até hoje,
existe a dúvida de que o benefício obtido tenha compensado, se considerarmos o deficit
adquirido. Quanto à lembrança de fatos e conhecimentos anteriores à cirurgia,
esse paciente não sofreu alteração.
ESQUECIMENTO
Ao contrário da
amnésia em que há perda de uma capacidade, o esquecimento é uma falha na
retenção ou na evocação dos dados da memória.
Trata-se de fenómeno
muito comum que, em maior ou menor grau, ocorre com qualquer pessoa.
No entanto, é cada
vez maior o número de pessoas que se sente incomodado com o problema e que
busca solução.
A principal
questão, no que se refere ao esquecimento, é determinar sua causa. Alguns
postulam que ocorre uma debilitação dos traços de memória com o passar dos
anos. Outros, no entanto, acreditam que novos conhecimentos podem interferir e
prejudicar a memória.
O desuso provocaria
um enfraquecimento dos circuitos da memória, conforme o modelo conexionista,
tornando cada vez mais difícil o acesso a essas informações. Isso pode explicar
parte do problema, mas não todo ele. É fato que, com o passar da idade, as
pessoas têm mais dificuldade para lembrar fatos passados, mas essa dificuldade
é mais intensa em relação aos fatos recentes, enquanto fatos remotos marcantes,
ainda que não utilizados com frequência, podem ser lembrados facilmente,
inclusive em detalhes.
Considerando-se o
processo de interferência, sabe-se que um novo aprendizado pode interferir com
um antigo que lhe guarde alguma semelhança ou que lhe possa ser associado.
Assim, a cada nova informação haveria modificação naquelas já sedimentadas. O
acúmulo de informações, ao longo do tempo, faria com que pessoas de mais idade
tivessem maior dificuldade em relação à evocação da memória.
Nenhuma dessas
causas explica totalmente a ocorrência do esquecimento, mas não podem ser
descartadas como componentes do problema. Há, no entanto, outro aspecto
importante a ser considerado.
Não é possível
evocar uma informação, se ela não foi devidamente arquivada. Para que o ser
humano possa reter na memória determinada informação, é necessário que sua
atenção esteja voltada para isso. Sem atenção, não há qualquer possibilidade de
guardar-se um fato e, sem guardá-lo, não há como recuperá-lo depois.
O combate ao
esquecimento deve levar em conta a atenção e o poder de concentração, bem como
os factores que o facilitam ou o dificultam. Também se deve atentar para os fenómenos
do desuso e da interferência de novos aprendizados.
FATORES
INTERFERENTES
O cérebro humano
está sujeito a estímulos externos através dos sentidos, a estímulos internos
advindos do organismo e a estímulos de ordem emocional. Há quem acredite que o
ser humano só consegue pensar, porque há interacção desses estímulos.Com a
atenção e o poder de concentração não é diferente. Assim, há factores externos
e internos que facilitam ou dificultam a atenção.
O interesse
pessoal sobre determinado assunto faz com que certas pessoas possam quase que
decorar informações com uma única e simples leitura. É de conhecimento geral
que quanto maior o interesse, mais facilmente se aprende.
A vivência de
fatos com alta carga emocional faz com que os mesmos permaneçam para sempre na
memória. São os chamados fatos marcantes na vida de uma pessoa que, mesmo
ocorrendo uma única vez, não são jamais esquecidos.
Por outro lado, as
preocupações com os problemas diários, a ansiedade e, em muitos casos, a
depressão, são factores que turvam a atenção e, como consequência, impedem a
retenção de informações novas, gerando a impressão de que a “memória está
falhando”.
Esses factores, em
geral, não afectam directamente a memória, mas, sim, a atenção e a
concentração. No entanto, quando muito intensos, podem provocar alterações
temporárias da memória. É o caso dos conhecidos “brancos” que ocorrem em
situações de ansiedade intensa.
Há, ainda, um
outro factor ao qual se começa a dar atenção. Trata-se da relação e possível
interferência entre as memórias explícitas e implícitas.
Toda actividade
humana, inclusive as puramente intelectuais, tendem a ser automatizadas. Muitas
de nossas actividades são repetidas diariamente e, ao longo do tempo, vão
deixando de ser conscientes, passando a ser executadas sem que dediquemos a
elas a menor atenção. Com o avançar da idade, a maioria das pessoas começa a
executar só actividades e tarefas que já realizou um sem-número de vezes. Isso,
evidentemente, dificulta manter a atenção e, consequentemente, a retenção na
memória dos fatos ocorridos e das informações veiculadas nesse período.
Esse fenómeno é
mais comum do que se imagina, e tem como exemplo a leitura automática, em que o
leitor ao cabo de uma página não consegue se lembrar de uma linha sequer.
A maioria das
pessoas com problema de esquecimento, na realidade, nada tem de errado com sua
memória, mas, sim, com os mecanismos que levam a informação até a memória.
A
MEMORIA HUMANA E A ESCRITA
O ser humano
desenvolveu a capacidade de transmitir conhecimento a seus semelhantes. Talvez
tenha sido essa capacidade que permitiu sua sobrevivência como espécie e,
certamente, foi ela que lhe deu a supremacia na escala evolutiva.
Nos primórdios da
civilização, bastou que esse conhecimento fosse transmitido por uma linguagem
que misturava sons e gestos. Como isso era transmitido de geração em geração e
como quem conta um conto aumenta um ponto, criaram-se histórias fantásticas.
Surgiram as lendas das quais até hoje temos notícia.
Durante a era do
gelo, a humanidade sobreviveu graças à caça de grandes animais, mas essa fase
terminou. O ambiente mudou radicalmente e o ser humano foi obrigado a encontrar
outras fontes de alimentação. Daí, surgiu a agricultura e, com ela, a
sedentarização, a organização social em cidades e o acúmulo de riquezas.
A humanidade
percebeu que não havia mais como confiar somente na memória e, por volta do ano
3.100 a.C., surgiu a escrita. No princípio, era um simples rol de riquezas
estocadas em armazéns, mas logo o homem começou a usá-la com finalidade
religiosa, cultural e comercial.
Com o grande salto
cultural dado pelos gregos no período clássico, a escrita tornou-se o principal
instrumento na transmissão do saber e, paralelamente, um instrumento de poder
político.
No entanto, a
escrita não foi aceita por todos. Platão, através de Sócrates em seu diálogo
com Fedro, nos traz ao conhecimento uma lenda egípcia. Thot, deus a quem era
consagrada a ave íbis, inventou os números e o cálculo, a geometria e a
astronomia, o jogo de damas, os dados e a escrita. Durante o reinado de Tamuz,
o deus ofereceu-lhe suas invenções, dizendo-lhe para ensiná-las a todos os
egípcios. Mas Tamuz quis saber de suas utilidades e, enquanto o deus explicava,
o faraó censurava ou elogiava, conforme essas artes lhe parecessem boas ou más.
Quando chegaram à
escrita, Thot disse que aquela arte tornaria os egípcios mais sábios e lhes
fortaleceria a memória. No entanto, Tamuz respondeu-lhe que a escrita tornaria
os homens esquecidos, pois deixariam de cultivar a memória. Ao confiar apenas
nos livros, só se lembrariam de um assunto exteriormente e por meio de sinais,
e não em si mesmos. Os homens tornar-se-iam sábios imaginários.
Nesse mesmo
diálogo, Sócrates considera a escrita como algo que limita o pensamento, que
engessa as ideias. Um discurso escrito, dizia ele, será sempre o mesmo,
repetido inúmeras vezes sem que se lhe possa agregar novas ideias.
Ironicamente, se
hoje sabemos muito da filosofia de Sócrates, é porque Platão a escreveu.
Analisando a
questão frente a nossos conhecimentos sobre a memória humana, podemos, no
entanto, afirmar que escrever é uma forma salutar de ampliar nosso banco de
dados. Salutar, porque é preciso esquecer para poder lembrar. Explicando: nossa
memória não pode guardar absolutamente todas as informações que lhe chegam, sob
risco de bloqueio. É armazenando somente o que interessa e associando
convenientemente os dados estucados que a memória pode ser evocada.
De qualquer forma,
a escrita está aí, imutável ao longo do tempo (a não ser, claro, em algumas
dessas péssimas traduções com que por vezes nos deparamos), pronta para ser
consultada quando precisamos e, sobretudo, liberando o cérebro humano para a
associação dos conhecimentos armazenados e a criação de novas ideias.
A título de
ilustração, sabe-se que, com treinamento intenso e adequado, uma pessoa pode
reter uma sequência de 50, 100 algarismos. No entanto, com papel e lápis,
qualquer um terá a mesma sequência guardada, com um mínimo de esforço.
Finalizando, não
podemos nos esquecer do que dizia Confúcio… Bem, ele dizia… O que mesmo ele
dizia?… Acho que me esqueci, teria sido melhor escrever.
MEMÓRIA
SENSORIAL
As memórias sensoriais consideram-se uma espécie de armazéns
de informação provenientes dos diversos sentidos que alargam a duração do estímulo.
Isto facilita o seu processamento na Memória Operativa. Os armazéns mais
estudados os dos sentidos da visão e da audição. O armazém icónico encarrega-se
de receber a informação visual. Considera-se um depósito de grande capacidade
na qual a informação armazenada é uma representação isomórfica da realidade de
carácter puramente físico e não categorizado (ainda que não se tenha
reconhecido o objecto). Esta estrutura é capaz de manter 9 elementos
aproximadamente, por um intervalo de tempo muito curto -sensivelmente 250 milissegundos.
Os elementos que finalmente se transferiram para a Memória Operativa serão
aqueles a que o usuário prestará atenção.
O armazém onomatopaico, por sua vez, mantém armazenados os
estímulos auditivos até que o receptor tenha recebido a informação suficiente
para a poder processar definitivamente na Memória Operativa.
MEMÓRIA
OPERATIVA (OU MEMÓRIA DE TRABALHO)
A Memória Operativa
(também chamada de trabalho), ao contrário da memória de curto prazo que é
imediata, é uma extensão do tempo que uma memória participa da memória de curto
prazo, sendo portanto um sistema temporário de guardar e manipular informações
associadas a aprendizado, raciocínio e compreensão, onde o usuário lida com a
informação a partir da qual está interactuando com o ambiente. Além de também
ser vista como termo mais genérico para o armazenamento da informação
temporária da MCP. Apesar de esta informação ser mais duradoura que a armazenada
nas memórias sensoriais, está limitada a aproximadamente 7±2 elementos durante
20 segundos (spam de memoria) findos os quais é apagada. Esta limitação de
capacidade manifesta-se em efeitos de primazia e decência.
Quando se apresentam uma lista de elementos a algumas pessoas (palavras,
desenhos, acções...) para que sejam memorizados, ao fim de um breve lapso de
tempo recordam com maior facilidade aqueles itens que se apresentaram ao
princípio (primazia) e no final (decência) da lista, mas não aqueles intermédios.
O efeito de primazia diminui com o aumentar da lista, mas o mesmo não se passa
com a decência. A explicação que se dá a estes dados é que as pessoas podem
repassar mentalmente os primeiros elementos até os armazenar na memória de
longo prazo (que se explicará a seguir), à custa de não poder processar os
elementos intermédios. Os últimos itens, por sua vez, permanecem na Memória
Operativa até finalizar a fase de aprendizagem, pelo que estariam acessíveis na
altura de recordar a lista. As funções gerais deste sistema de memória abarcam
a retenção de informação, o apoio na aprendizagem de novo conhecimento, a
compreensão do ambiente em dado momento, a formulação de metas imediatas e a
resolução de problemas. Devido às limitações de capacidade quando uma pessoa
realiza uma determinada função as demais não se poderão levar a cabo nesse
momento.
A Memória Operativa é
formada por vários subsistemas: um sistema supervisor (o Executivo Central), e
dois armazéns secundários especializados em informação verbal (o Laço de
Articulação) e visual ou espacial (a Agenda Visioespacial). O Executivo Central
coordena os recursos do sistema e faz a sua distribuição por diferentes
armazéns chamados escravos segundo a função que se pretenda levar a cabo.
Centra-se, portanto, em tarefas activas de controlo sobre os elementos passivos
do sistema, neste caso os armazéns de informação.
O Laço Articulatório,
por sua vez, encarrega-se do armazenamento passivo e manutenção activa de
informação verbal falada. O primeiro processo faz com que a informação se perca
num breve lapso de tempo, sendo que o segundo (repetição) permite refrescar a
informação temporal. Mais ainda, é responsável pela transformação automática da
linguagem apresentada de forma visual até à sua forma fonológica (processo que
se referiu anteriormente no apartado de percepção), pelo que na prática processa
a totalidade da informação verbal. Isto demonstra-se quando se trata de
recordar uma lista de letras apresentadas de forma visual ou auditiva: em ambos
os casos uma lista de palavras de som semelhante é mais difícil de recordar do
que uma em que estas não sejam tão parecidas. Assim, a capacidade de
armazenamento do Laço Articulatório não é constante como se acreditava (o
clássico 7 ±2), antes diminui à medida que as palavras a recordar são maiores.
Finalmente, a Agenda Visioespacial é o armazém do sistema que trabalha com
elementos de carácter visual ou espacial. Como o anterior, a sua tarefa
consiste em manter este tipo de informação. A capacidade de armazenamento de
elementos na Agenda Visioespacial sai afectada – tal como no Laço Articulatório
- pela semelhança dos seus componentes, sempre e quando não seja possível
traduzir os elementos ao seu código verbal (p.e. porque o Laço Articulatório
esteve ocupado com outra tarefa). Assim, será mais difícil recordar um pincel,
uma caneta e um lápis do que um livro, um balão e em lápis.
Investigou-se como a
limitação de recursos da Memória Operativa afecta a execução de várias tarefas
simultâneas. Nas investigações deste tipo pede-se às pessoas que realizem uma
tarefa principal (p.e. escrever um artigo) e de outra secundária (p.e. escutar
uma canção) ao mesmo tempo. Se a tarefa principal se realizar pior que quando
se realiza sozinha, pode-se constatar que ambas tarefas repartem recursos. Em
linhas gerais, o rendimento em tarefas simples piora quando estas requerem a
participação de um mesmo armazém secundário (p.e. escrever um texto e estar
atento ao que se diz na canção) mas não quando os exercícios se levam a cabo de
forma separada nos dois armazéns ou subsistemas (p.e. escutar uma notícia e ver
umas imagens de televisão). Quando a complexidade das tarefas aumenta e se
requer o processamento de informação controlado pelo Executivo Central a
execução em ambas as tarefas diminui de velocidade mas não piora.
Também se demonstrou
que as pessoas de mais idade mostram pior rendimento nas tarefas que requerem o
uso do componente do executivo central da memória de trabalho. Pelo contrário,
as tarefas que precisem da parte fonética não serão tão afectadas pela variável
idade. No entanto, actualmente esta questão não é pacífica.
MEMÓRIA
DE LONGO PRAZO
Este armazém faz referência ao que geralmente se entende por
memória, a estrutura na qual se armazenam recordações, conhecimento acerca do
mundo, imagens, conceitos, estratégias de actuação, etc. É um armazém de capacidade
ilimitada (ou desconhecida) e contém informação de natureza distinta.
Considera-se como a “base de dados” na qual se insere a informação através da
Memória Operativa, para se poder posteriormente fazer uso dela.
Uma primeira distinção
dentro da Memória de Longo Prazo (MLP), é a que se estabelece entre Memória
Declarativa e Procedimental. A Memória Declarativa é aquela em que se armazena
informação sobre acções, sendo que a Memória Procedimental serve para armazenar
informação baseada em procedimentos e estratégias que permitem interactuar com
o meio ambiente, mas que se posta em marcha tem lugar de maneira inconsciente
ou automática, resultando praticamente impossível a sua verbalização.
CLASSIFICAÇÃO
POR TIPO DE INFORMAÇÃO
Memória procedimental
Pode-se considerar como um sistema de execução, implicado na
aprendizagem de tipos distintos de habilidades que não estão representadas como
informação explícita sobre o mundo. Pelo contrário, estas activam-se de modo
automático, como uma sequência de pautas de actuação, perante os pedidos de uma
tarefa. Consistem numa série de reportórios motores (dactilografar, utilizar o
rato...) ou estratégias cognitivas (programar numa linguagem conhecida por
parte do usuário, efectuar um cálculo) que levamos a cabo de modo inconsciente.
A aprendizagem destas habilidades acontece de modo gradual,
principalmente através da execução do retro alimentação que se obtenha desta;
de facto, também podem influir as instruções (sistema declarativo) ou por
imitação. O grau de desenvolvimento destas habilidades depende da quantidade de
tempo empregue na sua prática, bem como do tipo de treino que se leve a cabo.
Como prevê a lei da prática, nos primeiros ensaios a velocidade de execução
sofre um rápido incremento exponencial que vai diminuindo de ritmo conforme
aumenta o número de ensaios de prática. A aprendizagem de uma habilidade
implica que esta se realize optimamente sem demandar demasiados recursos de
atenção que podem estar em uso com outra tarefa ao mesmo tempo. A dita
habilidade levar-se-á a cabo de maneira automática.
A unidade que organiza a informação armazenada na Memória
Procedimental é a regra de produção que se estabelece em termos de
condição-acção, sendo a condição uma estimulação externa ou uma representação
desta na memória operativa; e a acção considera-se uma modificação da
informação na memória operativa ou no ambiente. As características desta
memória são importante chegada a hora de desenvolver uma série de regras que ao
aplicarem-se permitam obter uma boa execução de uma tarefa.
Memória declarativa
A memória declarativa contém informação que se refere ao
conhecimento sobre o mundo e experiências vividas por cada pessoa (memoria
episódica), bem como informação referida ao conhecimento geral, melhor referido
a conceitos extrapolados de situações vividas (memoria semântica). Ter em conta
estas duas subdivisões da Memória Declarativa é importante para entender de que
modo a informação está representada e é recuperada de uma forma distinta.
A distinção de Memoria Semântica da conta de um armazém de
conhecimentos acerca dos significados das palavras e as relações entre estes
significados, ao constituir uma espécie de dicionário mental, mostra que a
Memória Episódica representa eventos ou sucessos que reflectem detalhes da
situação vivida e não somente o significado.
A organização dos conteúdos na Memória Episódica está sujeita
a parâmetros espácio-temporais, ou seja, os eventos que se recordam representam
os momentos e lugares em que se apresentaram. De facto, a informação
representada na Memória Semântica segue uma pauta conceptual, de maneira a que
as relações entre os conceitos se organizem em função do seu significado.
Outra característica que diferencia ambos tipos de
representação refere-se a que os eventos armazenados na Memória Episódica são
aqueles que foram explicitamente codificados, sendo que a Memória Semântica
possui uma capacidade inferencial e é capaz de manejar e gerar nova informação
que nunca se havia apreendido explicitamente, mas que se havia implícita nos
seus conteúdos (entender o significado de uma nova frase ou de um novo
conceito).
CONCLUSÃO
Chegamos a conclusão que a memória humana é pela capacidade dos seres humanos de
adquirir, conservar e evocar informações através de dispositivos
neurobiológicos e da interacção social.
Os principais sistemas de memória reconhecidos pela psicologia
cognitiva são a memória sensorial,
a memória
de trabalho (também chamada memória operacional,
a memória de curta duração) e a duração. Esta última divide-se ainda em memória declarativa (subdividida em memória
episódica e memória semântica)
e memória de procedimentos.
BIBLIOGRAFIA
ÍNDICE