CAPITULO I – GEODINÂMICA EXTERNA DA TERRA



CAPITULO I – GEODINÂMICA EXTERNA DA TERRA
I.1. PROCESSOS DA GEODINÂMICA EXTERNA
A geodinâmica, é o ramo da geologia que se dedica ao estudo do conjunto de fenómenos que ocorrem na Terra e as suas consequências. Ela estuda os fenómenos endógenos (geodinâmica interna) e os fenómenos exógenos (geodinâmica externa).
A geodinâmica interna é o conjunto de processos internos (calor, fluidos de circulação, pressão, que produzem alterações na crosta terrestre. Os agentes da geodinâmica interna são também conhecidos como os agentes construtores de relevo, pois são os responsáveis pela criação da maioria das formas de relevo terrestre - cadeias montanhosas, paisagens geológicas, etc.
A geodinâmica externa é o conjunto de processos externos que conduzem a alteração da superfície da crosta terrestre. Os agentes da geodinâmica externa, constituem os agentes modeladores de relevo ou agentes erosivos, pois modelam o relevo que os agentes da geodinâmica interna criam através da erosão.
Os agentes da geodinâmica externa são a água, o vento, as mudanças de temperatura, a gravidade, os glaciares, os seres vivos, etc.
Os principais processos geodinâmicos são a meteorização e a erosão.

I.1.1. METEORIZAÇÃO E EROSÃO
Denomina-se por meteorização a alteração provocada pelos agentes atmosféricos tais como a água, o ar, as mudanças de temperatura e outros factores ambientais que modificam as características químicas e físicas das rochas à superfície (rocha mãe).
A erosão é o conjunto de processos de aplanação da crosta terrestre através dos agentes da geodinâmica externa envolvendo meteorização do material já existente, transporte e deposição do mesmo noutro local, contribuindo para a modificação das formas criadas pelos agentes de geodinâmica interna.

I.1.1.1. TIPOS DE METEORIZAÇÃO
Os processos de meteorização actuam através de mecanismos modificadores das propriedades físicas dos minerais e rochas (morfologia, resistência, textura, etc), e das características químicas (composição química e estrutura cristalina). Em função do mecanismo predominante de actuação, a são normalmente classificados em meteorização física e meteorização química. Quando a acção (física ou bioquímica) de organismos vivos ou da matéria orgânica proveniente da sua decomposição participa do processo, a meteorização é chamada de físico-biológico ou químico-biológico.
Meteorização física: é quando não há alteração química e mineralógica da rocha, ou seja, depois do processo de alteração, a rocha que se obtém tem as propriedades da rocha mãe.
Meteorização química: é quando há alteração química e mineralógica da rocha, ou seja, depois do processo de alteração, a rocha que se obtém tem as propriedades completamente diferentes das propriedades da rocha mãe. Os minerais novos formados quando a rocha é submetida a novas condições atmosféricas ou termodinâmicas, são chamados minerais de neoformação.

A)  Meteorização física
A meteorização física, provoca nas rochas uma desintegração (desagregação) em fragmentos cada vez menores, mas que retém as características do material original. Há vários agentes externos que podem actuar sobre as rochas e acelerar a sua fragmentação tais como, o efeito do gelo, a actividade biológica, a acção mecânica da água e do vento, a descompressão à superfície, as dilatações e contrações térmicas e o clima.
Efeito do gelo: A água que penetra nos interstícios porosos da rocha pode congelar por abaixamento da temperatura, aumentando assim o seu volume. Exerce consequentemente uma pressão que provoca o alargamento das fissuras e a desagregação.
Actividades biológicas: As sementes, germinando em fendas das rochas, originam plantas cujas raízes se instalam nessas fendas abrindo-as cada vez mais e contribuindo para a separação dos blocos. Alguns animais cavam galerias nas rochas favorecendo a desagregação.
Acção mecânica da água e do vento: As águas correntes e o vento transportam detritos que metralham as rochas, acelerando o desgaste e a fragmentação.
Descompressão à superfície: Quando as rochas formadas em profundidade são aliviadas da carga suprajacente, a parte exposta expande-se, enquanto que a parte profunda continua sob pressão. Podem produzir-se diáclases paralelas à superfície, que favorecem a separação do maciço rochoso em placas.
Dilatações e contrações térmicas: As variações de temperatura provocam dilatações e contrações alternadas dos minerais, que reagem de diferentes modos por terem diferentes coeficientes de dilatação. Este processo ocorre nos desertos e em zonas de incêndios, devido a grandes variações de temperatura.
Clima: O clima é o factor que mais influencia a meteorização. Este facto, é evidenciado pela observação da meteorização em zonas temperadas, tropicais, polares desérticas.
De uma forma geral, a meteorização é mais acentuada em zonas tropicais, onde a precipitação, a temperatura e a vegetação atingem valores mais elevados. O mínimo de meteorização é observado nos desertos e regiões polares, onde estes factores têm valores reduzidos.
A extensão e o tipo de meteorização são devidos a acção principalmente da água. Nesse sentido, a pluviosidade, tendo em atenção a intensidade de precipitação, a infiltração, a taxa de evaporação e as variações sazonais, influencia a taxa de meteorização numa determinada região.   
As grandes amplitudes térmicas são também um importante agente de meteorização física, provocando a fracturação das rochas devido à instabilidade gerada pela dilatação e contração e, por outro lado provocam fenómenos de gelo e degelo na água que se infiltra nas rochas.
A água e o vento, transportam materiais que, ao baterem nas rochas, lhes provocam desgaste e fragmentação. A maior susceptibilidade ao desgaste das rochas encaixantes é muitas vezes provocada pela existência de fissuras ou diáclases. Uma das formações resultantes destes desgastes é a Ayers Rock.

B)  Meteorização Química
O processo de meteorização química transforma os minerais das rochas em novos produtos químicos e a sua acção é tanto mais intensa e facilitada quanto maior for o estado de desagregação física das rochas. Este tipo de meteorização é mais frequente em regiões quentes e húmidas, nas quais a temperatura tem um papel importante na velocidade e dinâmica das reacções químicas que se efectuam.
Esta meteorização pode ocorrer de duas maneiras distintas:
Ø  Os minerais são dissolvidos completamente, a exemplo da calcite ou halite, e, posteriormente, podem precipitar formando os mesmos minerais;

Ø  Os minerais são alterados, a exemplo dos feldspatos e micas, e, posteriormente, formam novos minerais, especialmente, minerais de argila.
A presença da água é fundamental na meteorização química, uma vez que, a água actua como um meio de transporte dos elementos atmosféricos para os minerais das rochas, facilitando as reacções químicas. A taxa e o grau de meteorização química são grandemente influenciados pelo aumento da precipitação.
A meteorização química das rochas inclui diversas reacções químicas, tais como a dissolução, a hidratação, a hidrólise e a oxidação. Estas reacções ocorrem mais facilmente na presença da água e do ar atmosférico.
Dissolução
A dissolução é o processo através do qual, o material constituinte das rochas passa imediatamente ao estado de dissolução. A água é o mais eficaz e universal solvente conhecido. A molécula da água é polar e funciona como um pequeno magnete que atrai os iões situados à superfície dos minerais. Devido a polaridade da molécula da água, praticamente todos os minerais, em maior ou menor grau são solúveis nela.
Algumas rochas e minerais são solúveis na água, tais como, as rochas salinas (halite), rochas calcárias (calcite e dolomites). A capacidade de dissolução da água aumenta quanto menor for o valor do PH.
Na natureza, a acidificação da água é um fenómeno frequente, por exemplo, o dióxido de carbono pode reagir com a água formando ácido carbónico.
A halite é solúvel na água salgada com iões de sódio e cloro dissolvidos.
Carbonatação
A carbonatação é a reacção entre as águas acidificadas e a calcite (CaCO3), mineral que faz parte dos calcários, formando produtos solúveis. Assim, os calcários são alterados e distribuídos por um processo químico.
O cálcio e o carbonato de hidrogénio são removidos em solução, deixando somente as impurezas insolúveis. Estas reacções provocam alargamento das fissuras nas quais a água se infiltra e circula, podendo conduzir a formação de uma rede de galerias e de grutas subterrâneas.

Hidrólise
É uma reação química específica em que os elementos dos minerais reagem com os iões hidrogénio e hidróxidos da água para formar um mineral diferente.
Um exemplo de hidrólise é a meteorização dos feldspatos que abundam, em vários tipos de rochas quer sob a forma de feldspatos potássicos, quer de plagióclases. A meteorização desses minerais que conduz a formação de minerais de argilas e denomina-se caulinização.
Quando um feldspato potássico entra em contacto com o ácido carbónico, ocorre a seguinte reação:
Oxidação
Consiste na combinação do oxigénio atmosférico com um elemento do mineral para constituir um óxido. O processo é especialmente importante na meteorização de minerais que possuem o ião ferro, tais como as olivinas, piroxenas e anfíbolas.
O iao ferro dos silicatos reage com o oxigénio para formar hematite (Fe2O3) ou limonite [Fe2O3(OH)]. A hematite, quando dispersa nos sedimentos, é a responsável pela sua cor avermelhada.
A taxa de oxidação aumenta com a temperatura, pelo que a alteração química por este processo é mais intensa nos climas quentes e húmidos.

C)  Acção dos seres vivos
As plantas e as bactérias são também importantes agentes de meteorização química devido a produção de alguns ácidos e compostos orgânicos. A água libertada pelos seres vivos é normalmente mais ácida (pH menos elevado) que a água corrente, aumentando a capacidade de meteorização das rochas.

I.1.1.2. EROSÃO
A erosão é um fenómeno natural provocado pela desagregação de materiais da crosta terrestre pela ação dos agentes exógenos, tais como as chuvas, os ventos, as águas dos rios, entre outros. Essas partículas que compõem o solo são deslocadas de seu local de origem, sendo transportadas para as áreas mais baixas do terreno.
De acordo com sua origem, o processo erosivo pode ser classificado em erosão pluvial (ação das chuvas), erosão fluvial (ação das águas dos rios), erosão por gravidade (movimentação de rochas pela força da gravidade), erosão eólica (ação dos ventos), erosão glacial (ação das geleiras), erosão química (alterações químicas no solo) e erosão antrópica (ação do homem).
A erosão tem se intensificado em virtude das ações antrópicas, pois o homem tem modificado o meio natural de forma desastrosa, e uma das consequências é essa erosão acelerada. Os fatores que contribuem para esse cenário são: desmatamentos, queimadas, urbanização, impermeabilização do solo, drenagem de estradas, linhas de plantio, etc.
O avanço da erosão desencadeia uma série de problemas socioambientais: deslizamentos (provocados pela força de gravidade), enchentes  (através do preenchimento de lagos e rios), assoreamento dos rios, morte de espécies da fauna e da flora, redução da biodiversidade, perda de nutrientes do solo, redução da área de plantio, danos econômicos, entre tantos outros.
Dentre as possíveis formas de proteger o solo contra a erosão estão: preservar a cobertura vegetal do solo, técnicas agrícolas menos agressivas ao solo, curvas de nível no terreno, planeamento de construções, sistemas de drenagem e reflorestamento.

I.1.1.3. TRANSPORTE DE MATERIAIS
Geralmente o transporte de materiais é feito pela acção da gravidade e os produtos acumulam-se na base da rocha que os originou, formando depósitos de vertentes constituídos por detritos de taludes. Nos terrenos inclinados constituídos por rochas permeáveis, assentes numa camada argilosa, as aguas infiltradas nos terrenos permeáveis amolecem-os provocando o seu deslizamento sobre terrenos argilosos. O mesmo pode acontecer nos terrenos inclinados das zonas frias por acção de degelo.

I.2. OS SOLOS
O Solo é um complexo mineral e orgânico resultante da desagregação física e da decomposição química das rochas expostas à meteorização.
O solo, contudo, pode ser visto sobre diferentes ópticas. Para um engenheiro agrônomo, através da edafo/pedologia, solo é a camada na qual pode-se desenvolver vida (vegetal e animal). Para um engenheiro civil, sob o ponto de vista da mecânica dos solos, solo é um corpo passível de ser escavado, sendo utilizado dessa forma como suporte para construções ou material de construção. Para um biólogo, através da ecologia e da pedologia, o solo infere sobre a ciclagem biogeoquímica dos nutrientes minerais e determina os diferentes ecossistemas e habitats dos seres vivos.
A pedologia estuda a origem, a morfologia, a classificação e a distribuição espacial dos solos e, de uma forma geral, ocupa-se do estudo de todos os fenómenos que ocorrem nos solos. A edafologia, por seu lado, estuda o solo como suporte natural das plantas, a sua evolução e degradação, isto é, a sua destruição.
O solo é constituído por três (3) partes: a parte sólida (elementos minerais e orgânicos), a parte líquida (água) e a parte gasosa (ar).

I.2.1. FORMAÇÃO DOS SOLOS
Os processos de meteorização, que alteram a composição química e física das rochas, constituem o primeiro passo para a formação do solo. Mas o solo, além dos produtos minerais resultantes da meteorização, possui também matéria orgânica, que é essencial para a sua definição.
De um modo geral, os solos são formados por uma fracção sólida, uma fracção líquida e uma fracção gasosa.
Ø  A parte sólida é formada por elementos minerais de diversos tamanhos (cascalho, areias, argilas, colóides), por elementos orgânicos (vermes, insectos, bactérias, fungos) e por substâncias orgânicas em decomposição. Entre os constituintes sólidos do solo, podemos destacar os silicatos, os óxidos e hidróxidos de ferro, os fragmentos da rocha mãe, a matéria orgânica, etc.

Ø  A parte líquida é composta por água com diferentes substâncias em solução;

Ø  A parte gasosa é constituída por gases que preenchem os espaços ou cavidades porosas.

I.2.1.1. Características físicas do solo
Dentre as várias características físicas dos solos, podemos destacar as seguintes:
Ø  Textura de um solo: Depende do tamanho ou granulométria das partículas que compõem o solo. A textura de um solo desempenha um papel importante a nível da capacidade de retenção de água e é definida em função da percentagem de areia, limo ou silte e argila. Atendendo à fracção predominante, os solos denominam-se argilosos, limosos ou arenosos;

Ø  Estrutura de um solo: Depende da forma como as partículas se agrupam, em fragmentos cada vez maiores. Pode ser formada por blocos, grânulos, prismas, etc. Tem influência directa no arejamento do solo e na sua impermeabilidade, bem como na sua maior ou menor facilidade de trabalhar o solo;

Ø  Permeabilidade de um solo: Capacidade que o solo tem em se deixar atravessar pela água ou pelo ar;

Ø  Porosidade de um solo: Existência de espaços entre as partículas sólidas, permitindo a passagem infiltração da água ou ar.

I.2.1.2. Características químicas do solo
A análise química do solo tem por objectivo principal determinar o seu teor em elementos nutritivos susceptíveis de serem utilizados pelas plantas e o seu grau de acidez.
A análise química de um bom solo, evidencia a presença de dois grupos de elementos minerais: os elementos maiores (entram na composição das substancias fundamentais dos vegetais – azoto, potássio, cálcio, magnésio, enxofre e ferro) e os oligoelementos (encontram-se em muito pouca escala nas plantas e são indispensáveis à vida celular - manganês, cobre, zinco e alumínio).
O conjunto de elementos nutritivos disponíveis para a planta, representa a fertilidade mineral do solo.
A acidez de um solo está ligada à concentração dos iões H+ em solução e, depende dos iões livres, dos colóides argilo-húmicos e do teor do cálcio. Segundo o valor do pH da solução, existente no solo, distinguem-se os seguintes solos: solos alcalinos (pH 7), solos neutros (pH 7) e solos ácidos (pH 7).




I.2.1.2. Perfil de um solo
Na sua evolução, um solo apresenta várias fases. No início, apenas encontramos uma rocha nua, exposta à erosão, não existindo solo. Assim, chamamos litosolo à rocha dura e regosolo à rocha móvel. Com o tempo, forma-se um solo jovem, ainda muito aproximado da rocha mãe mas, lentamente, esse solo transformar-se-á num solo maduro e corresponderá ao final dessa evolução se atingir o equilíbrio. Se, por acaso, a evolução for diferente do normal, devido a uma modificação da vegetação por intervenção humana, ficaremos na presença de um solo degradado.
Ao analisarmos um solo bem evoluído, distinguiremos 3 zonas sucessivas (horizontes), constituindo o seu conjunto aquilo a que se chama perfil.
Horizonte A – corresponde à zona superior, mais ou menos escura, consoante a concentração de matérias orgânicas. Por via da infiltração, os elementos solúveis são arrastados para baixo (ferro, alumínio, etc.). Este é um horizonte de eluviação;
Horizonte B – camada intermédia, mais ou menos escura, onde a infiltração provoca a acumulação de elementos minerais vindos de cima (óxidos de ferro e alumínio). Ao se concentrarem nesta camada, dão-lhe uma coloração amarelada ou avermelhada, podendo-se formar uma carapaça, por sedimentação, completamente estéril. É uma zona de iluviação.
Horizonte C - é a zona inferior onde se regista ou se verifica a presença de fragmentos da rocha mãe, mais ou menos alterados ou decompostos.

I.2.2. TIPOS DE SOLOS
As características de cada solo são consequência, em primeiro lugar, das condições climáticas existentes. No entanto, a rocha-mãe, os organismos do solo e o declive do terreno também influenciam fortemente o tipo de solo.
Como consequência da multiplicidade de combinações possíveis entre estes factores, o solo pode apresentar características e propriedades extremamente variadas. Daí existirem diferentes tipos de classificação de solos.
O primeiro cientista a publicar uma monografia que classificava os solos foi o russo V. V. Dukuchaev, em 1883. Baseou-se nas propriedades observáveis, a maioria das quais resultantes dos processos climáticos e biológicos da respectiva formação.
Hoje existem várias taxionomias dos solos, das quais a americana é bastante específica, mas ultrapassa os limites impostos pelo programa.
Em função do clima e da vegetação, os solos podem ser assim classificados:
Ø  Pedalfer;
Ø  Pedocal;
Ø  Laterites.

PEDALFER
São solos caracterizados pelo transporte de substâncias da superfície para o interior. Existem em climas temperados que apresentam uma precipitação média anual superior a 630 milímetros de chuva. Proporcionam uma vegetação abundante, muitas vezes com predominância de coníferas.
A actividade dos decompositores, em função do clima desfavorável, é pouco intensa e o horizonte O é constituído fundamentalmente por agulhas de coníferas e folhas de bétulas, que se acumulam em espessura razoável (cerca de um decímetro) e experimentam uma humificação muito lenta. O processo pode demorar anos.
Formam-se compostos húmicos solúveis que participam na alteração das argilas e favorecem a formação de complexos alumino-ferruginosos.
A maior parte dos materiais solúveis são lixiviados e arrastados pelas águas subterrâneas, razão por que não se encontra, nestes solos, carbonato de cálcio. Os óxidos de ferro e as argilas menos solúveis deslocados do horizonte A acumulam-se no horizonte B, dando-lhe uma coloração castanho-avermelhada ou castanha.
O termo pedalfer é formado pelas primeiras letras de pédon (solo) e dos símbolos químicos do alumínio (AI) e do ferro (Fe).

PEDOCAL
São solos caracterizados pela precipitação de substâncias devido à evaporação da água que ascende por capilaridade. Existem em climas temperados secos que apresentam uma precipitação média anual inferior a 630 milímetros de chuva.
São solos ricos em cálcio resultante do carbonato de cálcio e outros minerais solúveis. Estes solos são característicos de zonas quentes e secas, tais como as estepes que rodeiam os desertos. Em tais climas, muita água do solo é arrastada por capilaridade para a superfície, onde se evapora, depositando as substâncias que transportava em solução, principalmente carbonato de cálcio.
Originam-se "crustas calcárias" nos horizontes E e C. Quando cementados ou endurecidos, estes depósitos são denominados caliche ou  Kunkur. Encontram-se na Austrália e no deserto de Kalari e dos Estados Unidos.
A meteorização química é menos intensa nas regiões secas, pelo que se encontra uma percentagem pequena de minerais de argila. O pedocal (pédon + cálcio) não é tão fértil como o pedalfer, porque a composição mineralógica e a carência de água são menos favoráveis ao desenvolvimento de organismos.

LATERITES
Nos climas tropicais quentes e húmidos, com chuvas abundantes, formam-se solos denominados laterites. Nestas condições a meteorização é intensa.
Os solos lateríticos são frequentemente vermelhos e são compostos quase inteiramente por óxidos de ferro e de alumínio, geralmente as últimas substâncias da rocha meteorizada a solubilizarem-se. Se o solo é rico em hematite, pode ser utilizado como minério de ferro. Mas o clima tropical geralmente permite a hidratação da hematite em limonite, o que tira valor económico ao depósito.
Contudo, encontram-se muitas vezes neste tipo de solo camadas de bauxite, o principal minério de alumíniom. Sob o ponto de vista agrícola, as laterites são solos muito pobres, pois o húmus é praticamente inexistente devido à intensa actividade bacteriana.
Quanto a formação, os solos podem ser classificados em quatro grupos principais: solos residuais, solos transportados, solos coluviais e solos orgânicos.
Solos residuais: são solos que têm origem na decomposição das rochas por meteorização química, permanecendo in situ, constituindo o manto do intemperismo.
Solos transportados: são sedimentos inconsolidados recentes que poem ter origem fluvial, eólica, marinha, etc.
Solos coluviais: são solos formados pela movimentação lenta da parte mais superficial do mato de intemperismo em encostas mais ou menos inclinados sob acção de diversos agentes, principalmente a gravidade.
Solos orgânicos: são solos formados pela fracção mineral argilosa adicionada de uma proporção variada de matéria orgânica predominantemente vegetal.
Com base nas características de drenagem, os solos podem ser: solos ácidos, aluviais, arenosos, argilosos, áridos, calcários, mineral ou salinos.
A classificação pelo sistema americano baseia-se na génese inferida a partir do clima, drenagem, relevo e material original e podemos ter solos azonais, zonais e intrazonais.

I.2.2.2. Factores de que dependem o tipo de solo. Processos para tornar os solos mais produtivos.
Os factores que contribuem para a formação de um solo são fundamentalmente a rocha mãe e os seres vivos (vegetação, microfauna e microflora do solo). O clima, o tempo e a topografia do solo também contribuem para a sua formação.
Para tornar os solos mais produtivos, tem-se em conta os seguintes processos:
Ø  Controlo da disponibilidade de água (rega e irrigação);
Ø  Excesso de água (drenagem);
Ø  Aumentar a fertilidade (correcção dos solos - adubação/fertilizantes naturais ou químicos);
Ø  Evitar o empobrecimento (eliminação das ervas daninhas);
Ø  Facilitar a circulação de ar e água (lavrar os solos)

I.2.2.1. Principais tipos de solos em Angola.
A tabela abaixo, mostra os solos mais frequentes no nosso país.
Tipo de solo
Área (Km2)
Localização
Dunas do deserto
3 732
Luanda, Bengo, Kuanza Sul, Benguela e Namibe
Solos aluvionais
9 635
Luanda, Bengo, Benguela e Namibe
Litossolos e terreno rochoso
64 474
Malange e Namibe

Solos psamiticos

716 248
Cabinda, Luanda, Uíge, Kuando Kubango, Bié, Huambo, Zaire, Huíla, Moxico e Cunene
Solos calcários
9 008
Luanda, Bengo, Kuanza Sul e Benguela
Barros
11 176
Luanda e Bengo
Solos arídicos tropicais
60 095
Cunene e Namibe
Solos calsialíticos
5 916
Malange e Kuanza Norte
Solos oxissialíticos
7 060
Huíla, Huambo, Moxico
Solos fersialíticos tropicais
40 283
Huíla, Benguela e Malange
Solos paraferralíticos
46 875
Huíla e Benguela
Solos ferralíticos
268 897
Cabinda, Uíge, Huambo, Zaire e Huíla

Solos hidromórficos

3 084
Cabinda, Luanda, Uíge, Kuando Kubango, Bié, Huambo, Zaire, Huíla, Moxico, Lunda Norte, Lunda Sul, Malange
Areias de praia
215
Luanda, Bengo, Benguela, Kuanza Sul e Namibe




CAPÍTULO –II- GEODINÂMICA EXTERNA DA TERRA
II.1. ACÇÃO GEOLÓGICA DO VENTO
Os ventos são causados por massas de ar que se movimentam devido as diferenças de temperaturas e pressões na superfície terrestre. Os deslocamentos laterais de massas de ar mais frias tendem a anular a diferença de pressão causada, e assim os ventos sopram de pontos de pressão mais alta para lugares de pressão mais baixa.
O vento ocorre em todos os climas, porém com intensidades diferentes. A actividade geológica do vento é preponderante, particularmente em regiões áridas como os desertos, onde a evaporação é superior às precipitações
Para que a acção do vento seja eficaz, tem importância não apenas o facto de não haver vegetação, mas também a constituição superficial do terreno, que nos desertos pode ser muito variável. Para caracterizar a intensidade do vento, emprega-se a escala de Beaufort, a qual divide a intensidade em 12 categorias, dentre as quais destacam-se as seguintes:
ESCALA DE VENTOS DE BEAUFORT (Adaptada de Reader's Digest)
Escala
Descrição
Velocidade (km/h)
Efeitos observados
0
Calma
0
O fumo sobe na vertical.

1

Aragem

0 - 5
A direcção do vento é indicada pelo fumo mas não pelo cata-vento; a superfície do mar é como um espelho.

2

Vento fraco

6 - 11
Sente-se o vento no rosto; as folhas agitam-se; o cata-vento move-se.

3

Vento bonançoso

12 - 19
Folhas e pequenos ramos agitam-se; bandeiras ondulam.
4
Vento moderado
20 - 29
Levanta poeira; os troncos pequenos agitam-se.

5

Vento fresco

30 - 39
As árvores pequenas abanam; pequenas cristas de ondulação nos lagos.

6

Vento muito fresco

40 - 50
Os troncos grossos abanam; o vento assobia nos fios de telefone; ondas moderadas a grandes no oceano, com carneirinhos.
7
Vento forte
51 - 61
As árvores inteiras abanam.
8
Vento muito forte
62 - 74
Arranca ramos pequenos das árvores.

9

Vento tempestuoso

75 - 87
Ligeiros danos na estrutura das casas; ondas altas no oceano, com espuma e neblina abundantes.

10

Temporal

88 - 100
Árvores arrancadas; danos consideráveis nas estruturas das casas.
11
Temporal desfeito
101 - 116
Danos generalizados.

12

Furacão

> 116
Devastações; ondas muito altas no oceano; mar encapelado, completamente branco e coberto com neblina e espuma e visibilidade baixa.

II.1.1. ACÇÃO EROSIVA DO VENTO
Dos agentes geológicos que atuam na litosfera, o vento é o que apresenta menor poder erosivo. Esta capacidade reduzida deve-se ao facto de o vento só poder deslocar partículas pequenas, e em geral, a poucos centímetros do solo.
A ação erosiva do vento é máxima nas zonas desérticas, secas e de escassa vegetação. A acção modeladora do vento, resulta da sua tríplice acção geológica: erosão, transporte e sedimentação.
A velocidade do vento pode variar de uma simples brisa, com velocidade muito baixa, até à velocidade dos ventos ciclónicos, que podem atingir entre 180 a 200 km/h.
A acção do vento difere da acção modeladora da água em dois aspectos fundamentais:
Ø  O vento é muito menos denso e duro que a água e somente pode erodir sedimentos finos;
Ø  Geralmente não se encontra confinado em canais como a água, podendo assim actuar em áreas muito alargadas.
 A acção erosiva do vento é facilitada pelo efeito abrasivo das partículas que transporta. Esta acção faz-se sentir em regiões onde existem materiais detríticos soltos que se incorporam em correntes de ar, aumentando a sua capacidade erosiva e, manifesta-se fundamentalmente em dois processos: Deflação e Corrasão.
Deflação
A deflação é a acção directa do vento sobre as rochas, retirando delas as partículas soltas.
A deflação tem como efeito, a formação de grandes depressões que, ao atingirem o nível do lençol subterrâneo, formam-se lagos desérticos, podendo desenvolver-se vegetação, constituindo um Oásis. A deflação verifica-se fundamentalmente em regiões onde ocorre a desnudação (remoção) da camada protectora das ervas e plantas pela acção do homem e dos animais.
Porém na maior parte das vezes, os fragmentos maiores não transportáveis, acumulam-se como resíduo de deflação, formando frequentemente uma espécie de pavimento de fragmentos maiores – pavimentos desérticos (desertos pedregosos) ou o nome árabe de reg.

Corrasão
A corrasão é o ataque do vento carregado de partículas em suspensão, desgastando não só as rochas como as próprias partículas. É um fenómeno produzido pelo impacto das partículas de areia transportadas pelos ventos contra a superfície das rochas, polindo-as.
Os detritos maiores são sujeitos a esta acção abrasiva pelos elementos mais finos arrastados pelo vento, acabando por ficar facetados – ventifactos. O impacto dos grãos entre si, bem como contra as rochas, produz o desgaste, resultando em um alto grau de arredondamento e uma superfície fosca dos grãos que caracteriza o arenito de ambiente eólico.
Pode ocorrer forte corrasão associada à deflação, esculpindo nas rochas formas ruiniformes e outras feições típicas de regiões desérticas e outras assoladas por fortes ventos.
Transporte eólico
O material transportado depende da velocidade e do tamanho das partículas. Pode ser efectuado por suspensão, rolamento ou saltação.
Sob o efeito do vento, os grãos menores (com cerca de 0,125 mm de diâmetro) sobem e são transportados a distâncias razoáveis, dependendo da velocidade do vento. Alguns grãos médios sobem um pouco e logo descem, sendo transportados aos saltos, de acordo com as rajadas de vento. Os grãos maiores não chegam a sair do solo, deslocando-se apenas por rolamento por curtas distâncias. Dessa forma o material sofre uma selecção em seu transporte, o que ocasiona depósitos segundo o tamanho das partículas
Acumulação/deposição eólica
Quando a velocidade do vento (carregado de partículas) diminui, seu poder de transporte se reduz, tendo início a deposição a partir dos grãos mais grosseiros para os mais finos. Enquanto a areia deposita-se após um transporte pequeno, a poeira fina pode sofre um transporte superior a 2000 km.
Abrasão
Processo erosivo ou de desgaste de rochas pelo impacto e/ou atrito/fricção de partículas ou fragmentos carregados por correntes eólicas, glaciais, fluviais, marinhas, de turbidez, pelo vai e vem de ondas.

II.1.1.1. TIPOS DE VENTOS
Os ventos são os fluxos de correntes de ar numa direção principal. Os ventos se formam pela movimentação de correntes de ar numa direção predominante. Os ventos classificam-se de acordo com a pressão, temperatura e a velocidade da corrente de ar:
1. Brisa: Vento muito fraco com menos de 20 km por hora. Para as embarcações à vela a brisa é sinal de calmaria.
2. Ventos fracos, moderados e fortes: A partir de 20km/h, as correntes de ar em movimento passam a se chamar vento. Esses ventos favorecem o deslocamento das embarcações à vela.
3. Tempestades: Ventos com velocidade acima de 45 km/h estão associados à chuvas fortes, raios, relâmpagos. Em geral, tempestades duram menos de 2 horas.
4. Furacões: Chamados também de tufões ou ciclones são ventos giratórios fortes com velocidade de mais de 90 km/h que se formam nos oceanos tropicais. O poder de destruição dos furacões é enorme porque suas dimensões são grandes e eles duram vários dias.
5. Tornados: São o fenômeno mais destrutivo da atmosfera, chegam a atingir 500 km/h, também são ventos giratórios com forma de funil e têm curta duração. Quando ocorrem no mar chamam-se tromba d’água.

II.2. DEPÓSITOS EÓLICOS
Nas zonas do litoral e em desertos onde a areia é abundante, a acção modeladora do vento manifesta-se de várias maneiras, incluindo o transporte e a deposição dos sedimentos. O transporte dos sedimentos pelo vento é realizado por arrastamento (deslizamento, saltação e suspensão), dependendo da sua granulométria.
As areias eólicas adquirem formas arredondadas bastante perfeitas mas, apresentam-se despolidas, devido aos sucessivos choques entre si com os obstáculos, durante o processo de transporte, características estas que as permite distingui-las das areias do tipo fluvial, que são polidas e de tamanho variável. As principais formas de deposição das areias eólicas são as dunas, marés de areias e os depósitos loess.


Dunas
Quando a energia do vento não é suficiente para realizar transporte, as areias depositam-se constituindo as dunas. Existem duas grandes classificações das dunas: uma considerando seu aspecto como parte do relevo (morfologia) e a outra considerando a forma pela qual os grãos de areia se dispõem em seu interior (estrutura interna).
Existem três factores que determinam a morfologia de uma duna: a velocidade e a variação do rumo do vento predominante, as características da superfície percorrida pelas areias transportadas pelo vento e a quantidade de areia disponível para a formação das dunas. Quanto a morfologia (local de acumulação), as dunas podem ser litorais ou desérticas.
As dunas litorais formam-se a partir de grandes superfícies arenosas, onde os ventos dominantes sopram do lado do mar, desde que a areia possa ficar a seco e não haja obstáculos importantes no relevo. Estas dunas podem ocupar grandes extensões paralelas à costa, constituindo cordões que se deslocam para o interior a velocidades variáveis, podendo atingir em média 25 metros por ano, e fixarem-se pela acção da vegetação.
Nas dunas desérticas as formas mais comuns são: dunas transversais, longitudinais, barcanas, parabólicas e estrelas.
A formação das dunas transversais é condicionada por ventos muito frequentes e de direcção constante, bem como pelo suprimento contínuo e abundante de areia para a sua construção. A denominação transversal, provém da sua orientação perpendicular ao sentido preferencial do vento. O conjunto destas dunas em desertos costuma formar os chamados marés de areias.
As dunas longitudinais ou dunas seif em árabe, formam-se em regiões com abundante fornecimento de areia e ventos fortes e de sentido constante no ambiente desértico ou em campos de dunas litorâneas. Podem atingir dezenas de quilómetros de comprimento e cerca de 200 metros de altura.
As dunas barcanas desenvolvem-se em ambientes de ventos moderados e fornecimento de areia limitado. Como resultado, este tipo de duna assume a forma de meia-lua ou lua crescente com suas extremidades voltadas no mesmo sentido do vento.
As dunas parabólicas formam-se em regiões de ventos fortes e constantes com suprimento de areia superior ao das áreas de barcanas. São praticamente semelhantes as dunas barcanas embora tenham uma diferença sua curvatura que é mais fechada, assemelhando-se ao U.
A formação das dunas estrela esta directamente relacionada à existência de areia abundante e a ventos de intensidade e velocidade constantes mas, com frequentes variações na sua direcção, assemelhando-se a uma estrela.
A classificação baseada na estrutura interna das dunas leva em consideração a sua dinâmica de formação, sendo reconhecidos dois tipos: dunas estacionárias e dunas migratórias.
Na construção das dunas estacionárias, os grãos de areia vão se agrupando de acordo com o sentido preferencial do vento, formando acumulações geralmente assimétricas, que podem atingir varias centenas de metros de altura e muitos quilómetros de comprimento. A parte da duna que recebe o vento (barlavento) possui inclinação baixa de 5º a 15º normalmente, enquanto a outra face (sotavento), protegida do vento é bem mais íngreme, com inclinação de 20º a 35º.
Nas dunas migratórias, a semelhança das dunas estacionárias, o transporte dos grãos de areia segue inicialmente o ângulo do barlavento, depositando-se em seguida, no sotavento onde há forte turbulência. Desta forma, os grãos na base do barlavento migram pelo perfil da duna até ao sotavento.
De salientar que a formação dos desertos tem como factor preponderante, a falta de chuva. O Sara e o Kalahari em África, e o grande deserto australiano, são os lugares mais secos da terra e onde as temperaturas e pressões são bastante elevadas. A desertificação pode ocorrer devido a mudanças climáticas ou mesmo pela acção do homem.