CAPÍTULO –II- GEODINÂMICA EXTERNA DA TERRA


CAPÍTULO –II- GEODINÂMICA EXTERNA DA TERRA
II.1. ACÇÃO GEOLÓGICA DO VENTO
Os ventos são causados por massas de ar que se movimentam devido as diferenças de temperaturas e pressões na superfície terrestre. Os deslocamentos laterais de massas de ar mais frias tendem a anular a diferença de pressão causada, e assim os ventos sopram de pontos de pressão mais alta para lugares de pressão mais baixa.
O vento ocorre em todos os climas, porém com intensidades diferentes. A actividade geológica do vento é preponderante, particularmente em regiões áridas como os desertos, onde a evaporação é superior às precipitações
Para que a acção do vento seja eficaz, tem importância não apenas o facto de não haver vegetação, mas também a constituição superficial do terreno, que nos desertos pode ser muito variável. Para caracterizar a intensidade do vento, emprega-se a escala de Beaufort, a qual divide a intensidade em 12 categorias, dentre as quais destacam-se as seguintes:
ESCALA DE VENTOS DE BEAUFORT (Adaptada de Reader's Digest)
Escala
Descrição
Velocidade (km/h)
Efeitos observados
0
Calma
0
O fumo sobe na vertical.

1

Aragem

0 - 5
A direcção do vento é indicada pelo fumo mas não pelo cata-vento; a superfície do mar é como um espelho.

2

Vento fraco

6 - 11
Sente-se o vento no rosto; as folhas agitam-se; o cata-vento move-se.

3

Vento bonançoso

12 - 19
Folhas e pequenos ramos agitam-se; bandeiras ondulam.
4
Vento moderado
20 - 29
Levanta poeira; os troncos pequenos agitam-se.

5

Vento fresco

30 - 39
As árvores pequenas abanam; pequenas cristas de ondulação nos lagos.

6

Vento muito fresco

40 - 50
Os troncos grossos abanam; o vento assobia nos fios de telefone; ondas moderadas a grandes no oceano, com carneirinhos.
7
Vento forte
51 - 61
As árvores inteiras abanam.
8
Vento muito forte
62 - 74
Arranca ramos pequenos das árvores.

9

Vento tempestuoso

75 - 87
Ligeiros danos na estrutura das casas; ondas altas no oceano, com espuma e neblina abundantes.

10

Temporal

88 - 100
Árvores arrancadas; danos consideráveis nas estruturas das casas.
11
Temporal desfeito
101 - 116
Danos generalizados.

12

Furacão

> 116
Devastações; ondas muito altas no oceano; mar encapelado, completamente branco e coberto com neblina e espuma e visibilidade baixa.

II.1.1. ACÇÃO EROSIVA DO VENTO
Dos agentes geológicos que atuam na litosfera, o vento é o que apresenta menor poder erosivo. Esta capacidade reduzida deve-se ao facto de o vento só poder deslocar partículas pequenas, e em geral, a poucos centímetros do solo.
A ação erosiva do vento é máxima nas zonas desérticas, secas e de escassa vegetação. A acção modeladora do vento, resulta da sua tríplice acção geológica: erosão, transporte e sedimentação.
A velocidade do vento pode variar de uma simples brisa, com velocidade muito baixa, até à velocidade dos ventos ciclónicos, que podem atingir entre 180 a 200 km/h.
A acção do vento difere da acção modeladora da água em dois aspectos fundamentais:
Ø  O vento é muito menos denso e duro que a água e somente pode erodir sedimentos finos;
Ø  Geralmente não se encontra confinado em canais como a água, podendo assim actuar em áreas muito alargadas.
 A acção erosiva do vento é facilitada pelo efeito abrasivo das partículas que transporta. Esta acção faz-se sentir em regiões onde existem materiais detríticos soltos que se incorporam em correntes de ar, aumentando a sua capacidade erosiva e, manifesta-se fundamentalmente em dois processos: Deflação e Corrasão.
Deflação
A deflação é a acção directa do vento sobre as rochas, retirando delas as partículas soltas.
A deflação tem como efeito, a formação de grandes depressões que, ao atingirem o nível do lençol subterrâneo, formam-se lagos desérticos, podendo desenvolver-se vegetação, constituindo um Oásis. A deflação verifica-se fundamentalmente em regiões onde ocorre a desnudação (remoção) da camada protectora das ervas e plantas pela acção do homem e dos animais.
Porém na maior parte das vezes, os fragmentos maiores não transportáveis, acumulam-se como resíduo de deflação, formando frequentemente uma espécie de pavimento de fragmentos maiores – pavimentos desérticos (desertos pedregosos) ou o nome árabe de reg.

Corrasão
A corrasão é o ataque do vento carregado de partículas em suspensão, desgastando não só as rochas como as próprias partículas. É um fenómeno produzido pelo impacto das partículas de areia transportadas pelos ventos contra a superfície das rochas, polindo-as.
Os detritos maiores são sujeitos a esta acção abrasiva pelos elementos mais finos arrastados pelo vento, acabando por ficar facetados – ventifactos. O impacto dos grãos entre si, bem como contra as rochas, produz o desgaste, resultando em um alto grau de arredondamento e uma superfície fosca dos grãos que caracteriza o arenito de ambiente eólico.
Pode ocorrer forte corrasão associada à deflação, esculpindo nas rochas formas ruiniformes e outras feições típicas de regiões desérticas e outras assoladas por fortes ventos.
Transporte eólico
O material transportado depende da velocidade e do tamanho das partículas. Pode ser efectuado por suspensão, rolamento ou saltação.
Sob o efeito do vento, os grãos menores (com cerca de 0,125 mm de diâmetro) sobem e são transportados a distâncias razoáveis, dependendo da velocidade do vento. Alguns grãos médios sobem um pouco e logo descem, sendo transportados aos saltos, de acordo com as rajadas de vento. Os grãos maiores não chegam a sair do solo, deslocando-se apenas por rolamento por curtas distâncias. Dessa forma o material sofre uma selecção em seu transporte, o que ocasiona depósitos segundo o tamanho das partículas
Acumulação/deposição eólica
Quando a velocidade do vento (carregado de partículas) diminui, seu poder de transporte se reduz, tendo início a deposição a partir dos grãos mais grosseiros para os mais finos. Enquanto a areia deposita-se após um transporte pequeno, a poeira fina pode sofre um transporte superior a 2000 km.
Abrasão
Processo erosivo ou de desgaste de rochas pelo impacto e/ou atrito/fricção de partículas ou fragmentos carregados por correntes eólicas, glaciais, fluviais, marinhas, de turbidez, pelo vai e vem de ondas.

II.1.1.1. TIPOS DE VENTOS
Os ventos são os fluxos de correntes de ar numa direção principal. Os ventos se formam pela movimentação de correntes de ar numa direção predominante. Os ventos classificam-se de acordo com a pressão, temperatura e a velocidade da corrente de ar:
1. Brisa: Vento muito fraco com menos de 20 km por hora. Para as embarcações à vela a brisa é sinal de calmaria.
2. Ventos fracos, moderados e fortes: A partir de 20km/h, as correntes de ar em movimento passam a se chamar vento. Esses ventos favorecem o deslocamento das embarcações à vela.
3. Tempestades: Ventos com velocidade acima de 45 km/h estão associados à chuvas fortes, raios, relâmpagos. Em geral, tempestades duram menos de 2 horas.
4. Furacões: Chamados também de tufões ou ciclones são ventos giratórios fortes com velocidade de mais de 90 km/h que se formam nos oceanos tropicais. O poder de destruição dos furacões é enorme porque suas dimensões são grandes e eles duram vários dias.
5. Tornados: São o fenômeno mais destrutivo da atmosfera, chegam a atingir 500 km/h, também são ventos giratórios com forma de funil e têm curta duração. Quando ocorrem no mar chamam-se tromba d’água.

II.2. DEPÓSITOS EÓLICOS
Nas zonas do litoral e em desertos onde a areia é abundante, a acção modeladora do vento manifesta-se de várias maneiras, incluindo o transporte e a deposição dos sedimentos. O transporte dos sedimentos pelo vento é realizado por arrastamento (deslizamento, saltação e suspensão), dependendo da sua granulométria.
As areias eólicas adquirem formas arredondadas bastante perfeitas mas, apresentam-se despolidas, devido aos sucessivos choques entre si com os obstáculos, durante o processo de transporte, características estas que as permite distingui-las das areias do tipo fluvial, que são polidas e de tamanho variável. As principais formas de deposição das areias eólicas são as dunas, marés de areias e os depósitos loess.


Dunas
Quando a energia do vento não é suficiente para realizar transporte, as areias depositam-se constituindo as dunas. Existem duas grandes classificações das dunas: uma considerando seu aspecto como parte do relevo (morfologia) e a outra considerando a forma pela qual os grãos de areia se dispõem em seu interior (estrutura interna).
Existem três factores que determinam a morfologia de uma duna: a velocidade e a variação do rumo do vento predominante, as características da superfície percorrida pelas areias transportadas pelo vento e a quantidade de areia disponível para a formação das dunas. Quanto a morfologia (local de acumulação), as dunas podem ser litorais ou desérticas.
As dunas litorais formam-se a partir de grandes superfícies arenosas, onde os ventos dominantes sopram do lado do mar, desde que a areia possa ficar a seco e não haja obstáculos importantes no relevo. Estas dunas podem ocupar grandes extensões paralelas à costa, constituindo cordões que se deslocam para o interior a velocidades variáveis, podendo atingir em média 25 metros por ano, e fixarem-se pela acção da vegetação.
Nas dunas desérticas as formas mais comuns são: dunas transversais, longitudinais, barcanas, parabólicas e estrelas.
A formação das dunas transversais é condicionada por ventos muito frequentes e de direcção constante, bem como pelo suprimento contínuo e abundante de areia para a sua construção. A denominação transversal, provém da sua orientação perpendicular ao sentido preferencial do vento. O conjunto destas dunas em desertos costuma formar os chamados marés de areias.
As dunas longitudinais ou dunas seif em árabe, formam-se em regiões com abundante fornecimento de areia e ventos fortes e de sentido constante no ambiente desértico ou em campos de dunas litorâneas. Podem atingir dezenas de quilómetros de comprimento e cerca de 200 metros de altura.
As dunas barcanas desenvolvem-se em ambientes de ventos moderados e fornecimento de areia limitado. Como resultado, este tipo de duna assume a forma de meia-lua ou lua crescente com suas extremidades voltadas no mesmo sentido do vento.
As dunas parabólicas formam-se em regiões de ventos fortes e constantes com suprimento de areia superior ao das áreas de barcanas. São praticamente semelhantes as dunas barcanas embora tenham uma diferença sua curvatura que é mais fechada, assemelhando-se ao U.
A formação das dunas estrela esta directamente relacionada à existência de areia abundante e a ventos de intensidade e velocidade constantes mas, com frequentes variações na sua direcção, assemelhando-se a uma estrela.
A classificação baseada na estrutura interna das dunas leva em consideração a sua dinâmica de formação, sendo reconhecidos dois tipos: dunas estacionárias e dunas migratórias.
Na construção das dunas estacionárias, os grãos de areia vão se agrupando de acordo com o sentido preferencial do vento, formando acumulações geralmente assimétricas, que podem atingir varias centenas de metros de altura e muitos quilómetros de comprimento. A parte da duna que recebe o vento (barlavento) possui inclinação baixa de 5º a 15º normalmente, enquanto a outra face (sotavento), protegida do vento é bem mais íngreme, com inclinação de 20º a 35º.
Nas dunas migratórias, a semelhança das dunas estacionárias, o transporte dos grãos de areia segue inicialmente o ângulo do barlavento, depositando-se em seguida, no sotavento onde há forte turbulência. Desta forma, os grãos na base do barlavento migram pelo perfil da duna até ao sotavento.
De salientar que a formação dos desertos tem como factor preponderante, a falta de chuva. O Sara e o Kalahari em África, e o grande deserto australiano, são os lugares mais secos da terra e onde as temperaturas e pressões são bastante elevadas. A desertificação pode ocorrer devido a mudanças climáticas ou mesmo pela acção do homem.