CAPÍTULO –III- GEODINÂMICA EXTERNA DA TERRA

CAPÍTULO –III- GEODINÂMICA EXTERNA DA TERRA
III.1. ACÇÃO GEOLÓGICA DOS GLACIARES
Apesar de cobrirem actualmente cerca de 10% da superfície emersa da terra, as geleiras constituem um elemento extremamente importante na constituição na constituição física do planeta. O manto de gelo que recobre actualmente a Antárctica por exemplo, representa o maior sorvedouro de calor da terra influenciando profundamente as condições climáticas, circulação das águas oceânicas e da atmosfera terrestre.
Para um geólogo, um bloco de gelo é uma rocha, uma massa de grãos cristalinos do mineral gelo. Tal como a maioria das rochas, o gelo é duro mas é muito menos denso do que a maioria das rochas.
Os glaciares são enormes massas de gelo em terra firme constituídas por neve recristalizada, que se deslocam lentamente por acção da gravidade.

III.2. FORMAÇÃO DOS GLACIARES
Um glaciar forma-se quando existe abundante precipitação de neve durante a estação fria e esta não se derrete na estação quente. Esta neve acumulada (Nevado), é gradualmente convertida em gelo e, quando o gelo se torna suficientemente espesso, começa a fluir. São, assim necessárias duas condições essenciais para a sua formação: temperaturas baixas e quantidades adequadas de neve.
Para que os glaciares se formem, as temperaturas devem ser suficientemente baixas para manter a neve durante todo o ano. Estas condições são encontradas nas altas latitudes (regiões polares árcticos e antárcticos e sub-polares) e nas elevadas altitudes (montanhas – Alpes e Andes).
Como consequencia do movimento do gelo, podem abrir-se no glaciar, fendas transversais ou longitudinais com até mais de 100 metros de profundidade.

III.3. TIPOS DE GLACIARES
Os glaciares podem ser classificados com base no tamanho e na forma em dois tipos básicos: os glaciares de vale ou alpinos e os glaciares continentais ou inlandsis.
Glaciares de vale ou alpinos
Os glaciares de vale ou alpinos são rios de gelo que se formam nas partes mais altas das cordilheiras montanhosas onde a neve se acumula, geralmente em vales pré-existentes (bacias de recepção), fluindo ao longo dos mesmos. A maioria destes glaciares ocupa a largura total do vale e pode afundar a sua base rochosa sob centenas de metros de gelo.
Em climas mais quentes, de latitudes mais baixas, os glaciares de vale podem ser encontrados apenas nos topos dos picos das montanhas mais altas. Nos climas mais frios, das altas latitudes, os glaciares de vale podem descer muitos quilómetros ao longo do comprimento total do vale; em alguns locais, eles podem estender-se como largas línguas glaciárias nas terras baixas que rodeiam as frentes montanhosas.
Quando o glaciar de vale flui por cordilheiras costeiras, ele pode acabar no oceano, onde se desprendem massas de gelo que formam os icebergues.

Glaciares continentais ou inlandsis.
Um glaciar continental é muito maior do que um glaciar de vale e é constituído por um manto de gelo extremamente lento, daí também o seu outro nome de inlandsis.
Os maiores inlandsis  actualmente são os que cobrem grande parte da Gronelândia e da Antárctida. O gelo glaciar da Gronelândia e da Antárctida não se encontra confinado aos vales de montanha mas cobre praticamente toda a sua superfície sólida.
Na Gronelândia, 2,8 milhões de quilómetros cúbicos de gelo cobrem cerca de 80% da área total de 4,5 milhões de quilómetros quadrados da ilha. Maior ainda é o inlandsis antárctico onde o gelo cobre cerca de 90% da Antárctida, cobrindo uma área de cerca de 12,5 milhões de quilómetros quadrados e atingindo profundidades médias de 3000 metros, estando o seu ponto mais elevado situado a uma cota superior a 4000 metros.
As calotas polares são massas de gelo formadas nos pólos Norte e Sul da Terra. A maior parte da calota polar árctica formou-se nas águas oceânicas e não é, geralmente, referida como um glaciar.
Os leitos glaciares abandonados e invadidos pelo mar têm o nome de Fiorde. As rochas que fizeram parte do leito de um glaciar podem ser reconhecidas pelas suas superficies arredondadas, polidas e estriadas. Devido ao efeito visual que provocam, assemelhando-se a rebanhos de ovelhas, denominam-se rochas aborregadas ou arrebanhadas.
Glaciação e Ablação
A Glaciação é um termo geral usado para designar todos os processos e resultados ligados ao período de tempo durante o qual se verifica a cobertura ou ocupação de uma área por um lençol de gelo ou glaciar.
A quantidade total de gelo que um glaciar perde anualmente corresponde à sua ablação. Existem quatro mecanismos responsáveis pela ablação de um glaciar:
  1. Degelo: quando um glaciar se começa a derreter perde material;
  2. Desprendimento de icebergues: quebram-se peças de gelo e formam-se icebergues quando um glaciar desce até à linha de costa;
  3. Sublimação: nos climas frios, o gelo pode passar directamente do estado sólido para o estado gasoso;
  4. Erosão eólica: ventos fortes podem erodir o gelo primariamente por degelo e sublimação.

III.4. DEPOSIÇÃO DE MATERIAIS
Uma acumulação de material rochoso, arenoso e argiloso transportado pelo gelo ou depositado como terreno errático é denominada de moreia. Existem muitos tipos de moreia, cada uma nomeada de acordo com a sua posição em relação ao glaciar que as formou e as mais proeminentes são:
1.  Moreias laterais: dispõem-se nas margens do glaciar e são constituidas fundamentalmente, por detritos de talude e material resultante da erosao da margem do leito do glaciar. São superficiais.

2.  Moreias medianas: ocorrem quando há junção de dois glaciares, ocupando a zona média do glaciar resultante. São superficiais.

3.  Moreias frontais: são constituidas pelos materiais detriticos que se depositam na frente do glaciar.

4.  Moreias internas: são constituidas por materiais detriticos transportados no interior do glaciar, material detritico esse que caiu nas fendas ou foi erodido das margens do leito.

5.  Moreias de fundo: são constituidas por materiais detriticos que atingem o leito do glaciar ou que foram erodidos do fundo do leito.
O tamanho dos detritos transportados é muito variável. Se são de grande tamanho e aparecem muito longe do seu lugar de origem, denominam-se blocos erráticos.
Quando os glaciares recuam devido à elevação da temperatura, podem constituir-se depressoes limitadas por moreias frontais que são preenchidas pela agua resultante da fusao do gelo, formando lagos de barragem. Na parte terminal de uma moreia frontal pode constituir-se uma torrente glaciária ou um rio.