CAPÍTULO –IV- ACÇÃO GEOLÓGICA DAS ÁGUAS DO MAR

CAPÍTULO –IV- ACÇÃO GEOLÓGICA DAS ÁGUAS DO MAR
IV.1. MOVIMENTOS E ACÇÃO EROSIVA DAS ÁGUAS DO MAR
Os oceanos, as montanhas, os vales submersos, os vulcões submarinos e muitas espécies de rochas e sedimentos, desempenham um papel importante na modelação da crosta terrestre.
As águas do mar estão em constante movimento, que se revela pelas ondas, marés e correntes marinhas, provocando uma acção erosiva sobre os materiais sólidos com que entram em contacto quer no fundo do mar quer na costa. Esta erosão é condicionada por alguns factores, tais como: as ondas, as marés (que dependem da atracção gravítica da Lua e do Sol) e as correntes, bem como o tipo de rochas existentes no litoral, o levantamento ou a subsidência das zonas costeiras e as variações do nível médio das águas do mar (que condicionam as mudanças da linha de costa).
Os oceanos são grandes extensões de águas salgadas que banham os continentes e cobrem a maior parte da terra. Reserva-se a designação mar aos golfos, bacias e porções limitadas dos oceanos. A oceanografia é a ciência que se ocupa do estudo dos oceanos.

IV.2. ONDAS
As ondas são movimentos oscilatórios da superfície do mar produzida por qualquer acção que perturbe as águas.
Dos movimentos das águas marinhas, as ondas constituem o principal meio de que o mar se dispõe para desgastar o litoral sobre o qual actua por abrasão. No seu movimento, as ondas são possuidoras de uma poderosa energia cinética (força hidráulica) principalmente quando o mar esta agitado, que é capaz de destruir grandes massas rochosas, arrancando-lhes fragmentos por vezes de grandes dimensões.

IV.3. CORRENTES MARINHAS
As Correntes marinhas, são movimentos em grande escala de massas de águas oceânicas ocasionadas por processos vinculados à distribuição de calor do sol na atmosfera terrestre e na superfície dos oceanos. A distribuição espacial dos grandes padrões de correntes frias e quentes nos oceanos está directamente relacionada com esses diferenciais de temperatura.
O movimento de rotação da Terra também influencia essa distribuição, assim como a diferente salinidade e densidade das águas. Correntes frias tendem a movimentar-se no fundo e as quentes na superfície. O exemplo mais expressivo de corrente marinha é a do Golfo, que se origina no golfo do México, contorna a península da Flórida e direciona-se para o hemisfério Norte banhando o litoral norte-americano e parte do litoral leste da Europa, evitando um congelamento dessas áreas no inverno. No oceano Pacífico, em intervalos de tempo aproximados de 10 anos ocorre o fenômeno do El Niño, com um forte aquecimento da superfície do oceano, provocando, pela inversão das correntes, graves efeitos climáticos em escala mundial.
A costa marítima (zona limite entre a terra e o mar), encontra-se constantemente submetida a transformações provocadas pela acção das correntes marítimas, das marés, das ondas, da abrasão e das flutuações do nível do mar.

IV.4. MARÉS. TRANSGRESSÕES E REGRESSÕES MARINHAS
As observações vulgares, mostram-nos que o nível das águas do mar pode aumentar ou diminuir. No plano sedimentológico e à escala do tempo geológico, a elevação do nível do mar determina uma transgressão marinha (vulgarmente chamada por maré alta), que numa serie ou coluna estratigráfica traduz-se por uma sequência positiva. O abaixamento do nível das águas do mar, determina uma regressão marinha (vulgarmente chamada por maré baixa), que provoca uma erosão continental, correspondente a uma sequência estratigráfica negativa.
As marés são provocadas pelas forcas de atração exercida pela lua e pelo sol sobre a terra. Apesar das suas pequenas dimensões, a lua exerce uma grande influencia sobre o mar por se encontrar próximo da terra enquanto que o sol embora sendo enorme, a sua influência é menor pois a distancia que o separa da terra é maior.
A distância vertical entre o nível máximo e mínimo das águas marinhas, denomina-se amplitude da maré. O período de uma maré é o intervalo de tempo percorrido entre duas marés sucessivas.
 O aumento do nível medio das águas do mar, deve-se ao aumento de gás carbónico na natureza que por sua vez aumento a temperatura da terra, a acção erosiva dos mares, as perturbações provocadas pelo próprio homem bem como a fusão dos glaciares. Para minimizar este fenómeno em alguns países tem-se adoptado a construção de paredões para estancar a erosão.


IV.5. EROSÃO MARINHA
Tal como a acção dos ventos, dos rios e dos glaciares, o mar exerce a sua acção modeladora sobre o litoral pela erosão. No início, a erosão é feita por desgaste dos materiais e posteriormente o transporte e a consequente acumulação.
Os factores que condicionam a erosão marinham são:
A intensidade dos ventos do mar,
A natureza e a estrutura das rochas,
A forma do relevo costeiro e a presença dos fragmentos mobilizados pelas ondas. O processo mais eficaz da erosão marinha é a abrasão.

IV.6. TRANSPORTE DOS SEDIMENTOS MARINHOS. FORMAS LITORAIS DE SEDIMENTAÇÃO
A maior parte das partículas geradas pelo intemperismo e erodidas nos continentes são depositadas nas áreas oceânicas, embora possam também vir de outros processos como nos mostra a figura abaixo.

Grande parte dos depósitos sedimentares marinhos é composta por um ou vários tipos de sedimentos de origens diversas tais como os precipitados de sais a partir da água do mar (sedimentos autigênicos), conchas e matérias orgânicas derivadas da vida marinha e terrestre (sedimentos biogénicos), produtos vulcânicos e hidrotermais originados das actividades magmáticas no meio marinho (sedimentos vulcanogênicos), além de uma pequena quantidade de fragmentos cósmicos, atraídos pela gravidade terrestre, que se depositam em bacias oceânicas (sedimentos cosmogênicos).
Todos estes materiais depositam-se ao longo da costa e formam uma cintura contínua na periferia dos continentes. Podemos considerar a partir da costa a seguinte ordem de deposição: blocos, calhaus, rolados, cascalhos, areias e vasas.
Segundo a localização, maior ou menor profundidade e arrastamento da costa, os sedimentos marinhos repartem-se pelas seguintes categorias: litorais ou costeiros, neríticos, batiais e abissais.
Os sedimentos litorais ou costeiros, formam-se na plataforma litoral. Os detritos são dos mais diversos tamanhos e são constituídos por blocos, cascalhos, calhaus, areias e vasas. Os sedimentos de precipitação formados nas lagunas ou deltas dos rios, são normalmente depósitos salinos ou calcários de precipitação.
Os sedimentos neríticos constituem-se até às cotas de 200 metros no planalto continental. Os detritos são constituídos por cascalhos, areias, vasas e os de precipitação são algumas vasas calcárias.
Os sedimentos batiais constituem-se para além dos 200 metros sobre o talude continental, e o seu afastamento pode ir até aos 300 quilómetros da costa. São constituídos por detritos de pequeníssimas dimensões e geralmente são vasas argilosas que podem apresentar varias cores como azuis, vermelhas e verdes
Os sedimentos abissais constituem-se a profundidades para além dos 2000 metros. Denominam-se sedimentos pelágicos por serem constituídos, em grande parte, por restos de seres planctónicos depositados a grandes distâncias da costa.
A acção erosiva e de transporte da água é um agente modelador das faixas costeiras das áreas continentais. As formas litorais resultam de processos de erosão e deposição.
Na sua acção continua sobre a costa, as ondas provocam a sua destruição, arrancando-lhe detritos, por vezes de grandes dimensões. Depois de embater nas falésias (escarpa íngreme, à beira mar, formada pela acção da erosão marinha) ou de se estender nas praias (porção da costa, levemente inclinada, entre a linha media mais baixa da maré vazia e a linha media mais alta da preamar, coberta de areias, pedras ou fragmentos rochosos que resultam da abrasão marinha sobre o litoral), a agua das ondas regressa ao ma, originando uma corrente de refluxo que arrasta consigo uma serie de materiais.
Os maiores e mais achatados são depositados mais próximos da linha de costa e os mais rolados são arrastados para mais longe. Quando o processo actua por um período de tempo longo, acaba por cavar cavidades subterrâneas que diminuem a resistência das falésias, escarpas (rampa ou declive de terreno, deixado pela erosão, nas beiras ou limites dos planaltos e mesas geológicas) ou arribas que vão sendo destruídas, recuando. Este trabalho é facilitado se a rocha apresentar fissuras.
Assim se alarga a plataforma litoral ou plataforma de abrasão (região da costa que fica a descoberta na maré baixa e coberta de agua durante a maré alta). Nas zonas da costa onde as rochas não são muito resistentes à erosão, em pouco tempo, os materiais são facilmente desgastados e originam praias, que constituem as principais formas de deposição.
As acções conjuntas de erosão, transporte e sedimentação, tendem a tornar a linha de costa rectilíneo. Quando há um levantamento da linha de costa ou uma descida do nível do mar, forma-se um terraço marinho ou praia levantada.
Quando as arribas, escarpas ou falésias são constituídas por material litológico heterogéneo, de desigual dureza, o trabalho erosivo do mar, acompanhado do transporte e sedimentação de material arrastado, pode dar origem a acidentes diversificados como baías, arcos naturais, leixões, ilhas barreira, etc.